
Este é o que eu considero o máximo criativo e perfeito do Floyd. Isto é a minha opinião, quero deixar bem claro, assim como quero deixar bem claro que falo do Floyd como um conjunto, um grupo, e não o que viria ser depois, a banda de Roger Waters (e também excelente, diga-se de passagem).
Este disco é perfeito. As músicas, as melodias, as letras, os solos do Gilmour; as composições são realmente de primeiríssima qualidade, algo realmente na dimensão do Floyd. O que também me impressiona é que justamente este disco que eu tanto adoro e considero uma perfeição até maior que o "Dark Side" (por favor, é minha opinião), foi gravado em completo turbilhão da banda, com os membros mal se falando ou mesmo olhando um na cara do outro. Era o Pink Floyd que ninguém conhecia que estava lá gravando, um bando sem nenhuma vontade de fazer aquilo, de saco cheio do show business, ricos depois de "Dark Side of The Moon" e achando que não haveria mais nada a fazer ou acrescentar depois dele. O disco já estava pronto na forma que estava sendo apresentado ao vivo, nos shows abaixo. A banda procurou então fazer alguma coisa que teria a haver com o que eles estavam passando e sentindo na época: uma grande desilusão com tudo, com os shows, com a sombra de Syd e no que ele se transformou, com o mercado fonográfico - e isso foi fundamental para dar alguma motivação para criar. Daí sacaram "Raving e Drooling" e "You've Got To Be Crazy" (a contra gosto de Gilmour, mas foi voto vencido), e entraram com "Welcome to The Machine", "Have a Cigar" e "Wish You Were Here".
Existe também o histórico episódio de Barret ter aparecido em Junho de 75, durante as gravações do álbum, gordo, cabeça e sombrancelhas raspadas, irreconhecível, algo que também deprimiu bastante a todos, mas também inspirou Roger a escrever sobre ele e mexeu com a própria banda para terminar o trabalho.
Por isso este seja um disco tido como uma homenagem a Syd Barret, mas apenas a letra de "Shine On You Crazy Diamond" é para ele, a música não. Waters fez a letra depois que Gilmour apareceu com as primeiras frases da música, que foi sendo completada "com a adição de pequenas idéias musicais vindas de várias pessoas" (Waters), até ficar pronta; exatamente como foi com "Echoes", um monte de idéias reunidas que viraram músicas (e que músicas!). "Welcome to The Machine" fala sobre a relação e a adulação da indústria fonográfica (the machine) com os músicos, "Have a Cigar" também é uma crítica ao mercado e o que realmente importa nele ( "The band is just fantastic, that is really what I think. Oh by the way, which one's Pink?"), e "Wish You Were Here" Roger Waters fez para o pai dele. Portanto, a "presença" de Syd no disco não é tão forte quanto decantada (ou tão comercialmente decantada) em sua originalidade. Mas é impressionante como se encaixa perfeitamente naquela figura.
Ou seja, este maravilhoso disco, obra sensacional, e o que mais eu poder tecer de elogios sobre ele, não representa o Floyd saboreando o sucesso alcançado mas sim uma banda fragmentada, sem vontade e triste com o que haviam se transformado (uma máquina de vender discos e autônoma, sem mais identificação com os integrantes ou seu público). Havia um grande "temor" entre eles do tipo, "o que somos sem a marca Pink Floyd?" Pouco depois Gilmour e Wright lançariam discos solo.
Tudo isso sobre o "Wish You Were Here, este disco maravilhoso, me lembra um filme que vi, "Uma simples formalidade" com Gérard Depardieu & Roman Polansky, onde o primeiro fazia o papel de um escritor excêntrico, enquanto o segundo de um grande fã seu. Após recitar vários trechos que achava sensacionais nas suas obras, o fã ouve do escritor que ele nunca deveria conhecer seus ídolos ou perguntar como certa coisa que lhe agradou foi feita, pois a inspiração poderia ter vindo de um ataque de diarréia com seu criador sentado na privada. Melhor manter as ilusões.
Não é a mesma coisa, mas lembrei desse filme.
Este disco, dois anos depois do "Dark Side" teve seu brilho ofuscado pela grande vendagem que ainda tinha seu antecessor, sendo reconhecido como uma grande obra tempos mais tarde.
Justiça tarda mas não falha.
Shine On!