Falar deste disco é chover no molhado. Qualquer site de buscas lhe dará o predigree dele e todos os seus records de vendas, pemanência em paradas, execução em rádios, e o que mais você quiser saber sobre ele. Também tem um DVD que fala tudo sobre a obra , como foi feito e etc (é ótimo, vale a pena).
A primeira vez que ouvi algo do Dark Side foi a introdução de "Time" na abertura do seriado "O Sexto Sentido", que passava na televisão, quando eu tinha uns dez anos de idade. Depois corri atrás de uma gravação e no início dos anos 80 ganhei o disco de presente do meu pai, sendo o primeiro disco da minha coleção do Floyd.
Além de genial, musicalmente falando, eu destaco as letras, todas escritas por Waters, e que são muito inteligentes e maduras. Não fazem o estilo "eu acredito em duendes" ou "ventos cósmicos que ressoam no infinito"; não seguem os parâmetros de "Astronomy Dominé" ou "Echoes", por exemplo. Elas vão direto no seu cotidiano, perguntam o que você faz com seu tempo, onde você quer estar, chegar, ou o que vale a pena fazer ou ser. A viajem ali é real, ou a própria realidade. Não é por acaso que é o primeiro disco do Floyd com as letras publicadas. No vinil ficavam na parte de dentro (a capa abria), logo abaixo da linha cardíaca com as cores do prisma. Demais!
A primeira vez que li a letra de "Time", eu devia ter uns 13 ou 14 anos e achei horrível e sem sentido. Aos 30 ela tem tudo a haver e aos 40 você ainda se pergunta como o cara sacou aquilo e colocou numa letra de música.
"Dark Side" vira definição do que é um disco conceitual, até no visual. A capa é uma das mais progressivas já inventadas. Por exemplo, os desenhos de Roger Dean para capas do Yes, são belíssimos, obras de arte. Mas aquele prisma foi uma idéia genial, daquelas que bate direto no cerebelo, grava e você sempre associará a imagem à marca. Foi o exemplo de "Aton Heart Mother" de 1971, onde a capa ficou mais conhecida que o disco: era o disco da vaca. A vaca não virou símbolo do Floyd, mas este prisma é uma marca tão forte quanto ao porco de "Animals", de 1977 . O rótulo do vinil do Dark Side era o prisma apagado, que girando na pick-up dava um efeito quase que hipnótico. O bolachão também não tinha divisão das músicas de forma aparente, e você ficava olhando fixamente para o momento em que acabava uma música e começava outra, para identificar o tamanho da música e decorar sua posição no vinil.
A interatividade é algo que se perdeu bastante com a passagem do vinil para o CD. Antes todo o manuseio com o disco até que ele tocasse criava uma maior interação entre a obra e seu apreciador do que os CDs de hoje, ou melhor, de ontem, ao vinil estaremos nos referindo ao outrora. O contato direto que havia com o objeto criava uma aproximação maior, tanto com a obra concluída quanto com a própria peça construída. Com esta observância, todos os passos para se ouvir um disco já lhe "preparava" cognitivamente para uma interação maior com a obra. Ao menos toda vez que você quizesse ouvir o disco teria que virar o lado do disco, e assim, olhar, manusear, interagir. Sentir o "aroma" de um disco de vinil ao ser retirado da capa e ir para o prato.
O início com as batidas do coração, as vozes, os risos, o grito e a entrada dos músicos em "Speak To Me" (do Mason!) era uma abertura prefeita para um disco de progressivo enquanto "Time", "Money", "Us And Then" e "The Great Gig In The Sky" (uma música impressionantemente inimitável) eram um estrondo comercial, tocando com facilidade em rádios, boates e televisão. Com este disco o progressivo acontece em todo lugar, em todas as mídias, em todas as cabeças; até nas que não entendiam nada disso. Todo esse sucesso trouxe muitas críticas à banda por uma suposta rendição ao business, mas a verdade era que o som do Floyd era realmente muito bom, tanto técnica quanto criativamente. A obra é genial e não passaria despercebida, mesmo com a mídia já esperando algo grande do Floyd, após o sucesso de "Meddle" e "Live at Pompeii", que já dava uma idéia do que viria adiante, e com alguns bootlegs já disparados antes do disco oficial. Toda a espera foi justificada, mas nada seria igual na carreira do Pink Floyd depois disso.